O Papel do Administrador no Combate ao Assédio no Ambiente de Trabalho

O assédio no ambiente de trabalho é uma realidade que compromete não apenas a saúde mental dos empregados, mas também a reputação, a produtividade e a sustentabilidade das organizações. Em um cenário corporativo que busca ser mais inclusivo, justo e seguro, o administrador tem um papel fundamental na prevenção e no combate a qualquer forma de assédio. Este artigo explora como os administradores podem liderar essa transformação por meio da criação de políticas, protocolos e ações educativas eficazes.

O que é assédio no ambiente de trabalho?

O assédio pode ocorrer de várias formas — moral, sexual ou institucional — e envolve comportamentos que expõem a vítima a situações constrangedoras, humilhantes ou ofensivas de maneira repetida e prolongada. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 22% dos empregados no mundo já vivenciaram alguma forma de assédio no trabalho.

No Brasil, a situação é igualmente preocupante. De acordo com o DataSenado (2023), cerca de 40% das mulheres e 20% dos homens afirmam já ter sofrido assédio moral ou sexual no trabalho. Esses dados reforçam a urgência de ações estruturadas dentro das empresas.

Por que o administrador deve assumir um papel ativo?

O administrador é o elo entre as políticas da empresa e a realidade operacional. Cabe a ele garantir que as diretrizes sejam implementadas de forma prática, ética e acessível a todos os empregados. Um gestor que ignora ou minimiza episódios de assédio contribui diretamente para a perpetuação de ambientes tóxicos e propensos à evasão de talentos.

Administradores têm a responsabilidade legal e moral de:

  • Garantir um ambiente de trabalho seguro;
  • Promover a equidade nas relações interpessoais;
  • Prevenir condutas inadequadas e ilegais;
  • Agir com prontidão em caso de denúncias.

1. Criação e divulgação de políticas internas contra o assédio

Elaboração de políticas claras e objetivas

O primeiro passo é ter um código de conduta robusto, que defina com clareza o que constitui assédio, quais são as penalidades previstas e os canais de denúncia. Essa política deve estar alinhada à legislação trabalhista e a normas como a Lei nº 14.457/2022, que exige ações preventivas contra o assédio nas empresas com CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio).

Comunicação acessível e contínua

Não basta criar políticas: elas precisam ser amplamente divulgadas, explicadas e lembradas com frequência. O administrador deve garantir que todos os empregados, inclusive temporários e terceirizados, tenham acesso às informações por meio de:

  • Materiais impressos;
  • Campanhas internas;
  • Vídeos explicativos;
  • Palestras presenciais ou on-line.

2. Criação de canais seguros e confiáveis de denúncia

Canais confidenciais e imparciais

Administradores devem implementar canais de denúncia anônimos ou sigilosos, com atendimento qualificado e imparcial. Plataformas digitais, como ouvidorias terceirizadas ou formulários anônimos, garantem maior liberdade para a vítima relatar o ocorrido.

Garantia de não retaliação

É papel do administrador garantir que nenhum empregado sofra retaliação por fazer uma denúncia. Essa proteção é essencial para incentivar um ambiente de confiança e justiça.

3. Treinamento e sensibilização contínuos

Formação de lideranças

Os administradores devem capacitar líderes e gestores para que saibam identificar, prevenir e agir frente ao assédio. Muitas vezes, a falta de ação decorre da insegurança dos líderes em como lidar com esse tipo de situação.

Educação para todos os níveis

Realizar treinamentos periódicos com todos os empregados é essencial. Os conteúdos devem incluir:

  • Tipos de assédio;
  • Exemplos práticos;
  • Direitos dos empregados;
  • Como agir em caso de testemunho ou denúncia.

Essa estratégia reduz o desconhecimento e normalização de comportamentos abusivos no dia a dia corporativo.

4. Ações proativas para a construção de uma cultura ética

Avaliação do clima organizacional

É necessário monitorar o ambiente de trabalho regularmente. Pesquisas de clima organizacional com foco em relações interpessoais e segurança psicológica podem identificar riscos antes que eles se tornem casos críticos.

Cultura do respeito e da escuta

O administrador deve liderar pelo exemplo, promovendo uma cultura baseada no respeito, na empatia e na escuta ativa. Isso inclui:

  • Estimular a diversidade e inclusão;
  • Valorizar o bem-estar dos empregados;
  • Criar espaços para diálogo aberto.

5. Agilidade e transparência na gestão de incidentes

Investigações eficazes

Quando uma denúncia de assédio ocorre, o administrador deve acionar procedimentos formais de apuração, com sigilo, imparcialidade e celeridade. Ignorar ou demorar na resolução reforça a cultura de impunidade.

Adoção de medidas corretivas

Se confirmado, o assédio deve resultar em medidas concretas, como advertência, suspensão ou desligamento do assediador. Também é essencial oferecer suporte psicológico à vítima, se necessário.

Conclusão

O combate ao assédio no ambiente de trabalho não pode ser delegado apenas ao setor de Recursos Humanos ou aos departamentos jurídicos. O administrador tem um papel estratégico e indispensável nessa missão. Sua postura, decisões e comprometimento são fundamentais para construir ambientes corporativos mais seguros, respeitosos e saudáveis.

Implementar políticas, treinar lideranças, ouvir os empregados e agir com seriedade diante das denúncias não é apenas uma questão de conformidade com a lei — é um compromisso com a dignidade humana, com o desempenho da equipe e com o futuro da própria organização. Administradores que assumem esse papel com responsabilidade ajudam a transformar o ambiente de trabalho em um espaço verdadeiramente ético e acolhedor.

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